quinta-feira, 30 de junho de 2011

AMPULHETA

Virou a ampulheta e soltou o tempo
Até a queda do último grão pretendia trazê-lo de volta
Se valia ou não o esforço,
Isso seria discutido depois de ver seus olhos mais uma vez.
Se ao primeiro olhar,
Ela não mais se encontrasse refletida naquelas pupilas
Deixaria que se fosse, sem lutas...
Mas, se ainda continuasse lá
Nunca mais permitiria que fugisse
Como ele poderia pensar que ela concordaria que se fosse
Carregando-a como prisioneira naquele olhar?

quarta-feira, 29 de junho de 2011

NOITE

Trovões e relâmpagos enchiam a noite de sustos
Essa, acuada, fugiu com a lua e as estrelas
Para detrás das nuvens.
Esperava o sol chegar logo para escondê-las com seu brilho
Só assim poderiam descansar, invisíveis, na imensidão do oculto.

terça-feira, 28 de junho de 2011

OLHOS

Exigiu-me silêncio
Obedeci.
Pediu-me paciência.
Anui.
Disse que já voltaria
Ri.
As pessoas pecam por treinar mal seus olhos...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

OBRIGADA

Queridos Amigos

Agradeço imensamente os cumprimentos enviados!
Viajei, descansei, aproveitei a família e os amigos.
Assim, tenho que tive bons momentos na vida virtual e na vida real.
Obrigada pela constante companhia!
Amanhã volto a rotina das postagens.
Muitos beijos!



Gisa

quarta-feira, 22 de junho de 2011

ANIVERSÁRIO


Levo a vida que eu quero.
Da maneira que eu quero.
Com a intensidade que eu quero.

Faço as coisas que eu quero.
Falo tudo que eu quero.
Convivo com quem eu quero.

Liberdade irrestrita?
Não.
Prepotência?
Não.
Falta de noção?
Não.

Apenas pequenas conquistas 
De 46 anos 
De sonhos, delírios, devaneios,
sorrisos, partidas, encontros, escolhas, lágrimas,
danças, leituras, escritas, músicas, mágicas,
encantamentos, beijos, abraços, carinhos,
sensações, tristezas e alegrias...

Parabéns para mim, 
Pelo meu aniversário!
E obrigada a todos vocês,
Amigos que eu quero,
Pela constante companhia!


Tim-tim!

Volto na segunda-feira!

BEIJOS GISA


terça-feira, 21 de junho de 2011

PASSEIO

O telefone tocou como sempre
Ela atendeu como sempre
Uma voz do outro lado da linha,
De supetão,
Lançou-lhe um emaranhado de palavras
Que realmente não esperava.
Com frio na barriga, pernas bambas e respiração ofegante
Deixou-se envolver rapidamente sorrindo.
Quando deu por si, já não tinha mais saída
Acomodou-se o mais confortável que pode nas ondas sonoras
E partiu pelo fio pensando
Que mal teria se permitir um breve um passeio?

segunda-feira, 20 de junho de 2011

ÍRIS

 As sete fitas coloridas, destacadas com cuidado, foram dispostas em cima da mesa
Com a violeta recortou e moldou os olhos
Com a anil teceu os cabelos
Com a azul, o vestido cheio de borboletas
Com a verde, as pulseiras e colares
Com a amarela fez o corpo, braços e pernas
Com a laranja, os sapatos
Com a vermelha bordou a boca e as maçãs do rosto.
Deitou-se ao lado de sua obra a esperar mais chuva seguida de sol
Não via a hora de Íris ganhar vida
E juntas irem brincar de mergulhar, escorregar e nadar
Nas sinuosidades do arco...

domingo, 19 de junho de 2011

FLOR

No colorido jardim o espera.
Lembra-se de ter-lhe atirado a flor mais perfumada
Naquilo que ele imaginava ser uma despedida.
Não sabia ele, no entanto,
Que o mimo ofertado tinha ordens expressas
De construir uma trilha entre os dois distantes mundos.
Despiu-se da pressa e cobriu-se do mais belo bouquet.
Ele não tardaria a chegar.
Carregado pelo aroma que, com certeza
Não teria dificuldades de encontrar o caminho de volta...

sábado, 18 de junho de 2011

SUSTO

As palavras sopradas ao ouvido
Compostas de melodiosas notas graves 
E de um tom debochadamente sorridente
 aqueceram uma ideia de gelar alma...
A imagem holográfica, 
Era real...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

CHARADA

Seis horas da manhã.
Ela acordou com o estrondo do trovão.
Abriu a janela.
A chuva torrencial criava uma cortina intransponível.
Ficou por instantes a pensar o que aquilo tudo significava.
De um ímpeto, lançou-se para fora rompendo a barreira,
Que surpresa, não a conseguiu conter.
Entendeu que os sentidos mais uma vez a testavam.
Sorriu ao perceber que havia decifrado a charada.
Seguiu o percurso refeita,
Apreciando minuciosamente todas paisagens 
Que se abriam a sua passagem
Naquela nova estrada, repleta de sol.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

INTIMAÇÃO


Sou teimosa e birrenta.
O mundo gira em torno do meu umbigo.
Quero porque quero.
Brigo e grito até conseguir.
E posso garantir,
Que até hoje,
Não me arrependi,
Tampouco 
Causei qualquer arrependimento a alguém.
Pronto.
Falei.
E agora?
Vais continuar fazendo que não é contigo?

Google Images

quarta-feira, 15 de junho de 2011

HIPERMODERNIDADE

Corpos etéreos viajam nas palavras,
Dando-se prazeres intraduzíveis ...
Enquanto isso,
Os rostos impassíveis das fotografias,
No canto das páginas,
Seguem congelados na mesma posição.
A hipermodernidade invade o amor...

terça-feira, 14 de junho de 2011

PERGUNTA

Sinto saudades do teu gosto
Será que tem para vender na farmácia embalado em saquinhos, como chá?
Sinto saudades do teu cheiro
Será que eu conseguiria encontrar um frasco na perfumaria?
Sinto saudades da tua carne
Será que existem bolachinhas recheadas de ti no supermercado?
Sinto saudades do teu calor
Será que um cobertor com um calor parecido tem na loja?
Sinto saudades da tua presença, do teu toque, das tuas palavras, ditas e não ditas, do teu sorriso e da tua seriedade, do teu suor e do teu corpo fresco no chuveiro, dos teus olhos em mim, da tua língua e da tua boca a me percorrer...
Será que não queres voltar só mais um pouquinho apenas para que eu consiga te aproveitar por mais uma hora que seja?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

MATEMÁTICA

Um sorriso.
Dois braços. Dois braços.
Três olhares. Três olhares. Três olhares.
Quatro abraços. Quatro abraços. Quatro abraços. Quatro abraços.
Cinco minutos. Cinco minutos. Cinco minutos. Cinco minutos. Cinco minutos.
Seis amassos. Seis amassos. Seis amassos. Seis amassos. Seis amassos. Seis amassos.
Sete beijos. Sete beijos. Sete beijos. Sete beijos. Sete beijos.Sete beijos.Sete beijos.
Oito laços. Oito laços. Oito laços. Oito laços. Oito laços. Oito laços. Oito laços. Oito laços.
Nove ais. Nove ais. Nove ais. Nove ais. Nove ais. Nove ais. Nove ais. Nove ais. Nove ais.
Dez traços:  um + dois + três + quatro + cinco + seis + sete + oito + nove + dez
Do amor completo 
E não em pedaços.

domingo, 12 de junho de 2011

ERRO

Todo dia pegava o mesmo novelo e tecia o mesmo tricot.
À medida que ele crescia o novelo também se refazia para que, no dia seguinte, voltasse a ser tecido.
Já tinha perdido a noção de quantos anos aquela cena se repetia
Certa vez, enfadada da interminável tarefa, parou.
Jogou o tricot em uma cesta, junto com o novelo e os guardou no sótão.
Desceu e fechou a escada jogando a chave no poço ao lado da casa.
Feliz, seguiu a vida, longe da sina tão cansativa.
Toda noite ouvia barulhos vindos do sótão lacrado.
Pareciam coisas sendo arrastadas e quebradas.
Os ratos, pensava. Virava para o lado e seguia dormindo.
E foi durante seu sono que a casa ruiu em um grande estrondo.
Morreu soterrada pensando que sonhava, quando viu o novelo, imenso, quebrar o teto e invadir seu quarto, levando a casa ao chão.
Antes de tudo, concluiu em um lampejo de lucidez que tinha incorrido em apenas um erro:
Fugiu da sua sina, mas esqueceu-se de convencê-la a não segui-la mais...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

CORRESPONDÊNCIA

Derramei a última lágrima e a guardei em uma redoma de vidro.
Joguei alguns véus por cima para que ficasse bem oculta no canto mais sombrio da sala.
Sai fechando a porta e as janelas com cuidado.
Tranquei tudo e escondi a chave embaixo da pedra à direita da árvore torta no início do caminho.
Fiz um mapa detalhado de tudo, coloquei no envelope, enderecei a mim mesma, selei e depositei-o na  caixa de correios que pendia ao lado da casa.
Afastei-me sorrindo, leve.
Esperava nunca mais ter que abrir a correspondência...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

TRATO

Quero teus olhos fixos em mim.
Confia.
Vou aprisioná-los no meu corpo.
Se te arrependeres depois,
Prometo que os devolvo.
Não posso garantir, no entanto,
Que eles quererão ir,
Sem luta...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

MÁGICA

No ar giravam purpurinas em suspensão.
No centro do palco,
O único holofote dava seu espetáculo de luz.
As cortinas, rotas, de veludo vermelho
Já pálido pelos anos de serviços prestados,
Abriram-se com a mesma imponência de sempre.
Ela surge com uma capa negra de gola levantada,
Calças justas e camisa branca.
Na cabeça, a velha cartola meio castigada pelo uso.
Todos aplaudem e aguardam o início da apresentação.
Entre mil voltas com a varinha e inúmeras expressões enigmáticas,
Começa tirando lenços, pombas e coelhos da cartola,
Intercalados apenas pelas palmas e gritos da plateia.
Leva o espetáculo até o final, agradece e sai de cena.
Fecham-se as cortinas.
Apagam-se as luzes.
A plateia se retira.
Ela senta-se e tira a máscara, que já estava iniciando a lhe incomodar,
Livra-se da fantasia que lhe apertava as asas.
Respira fundo e lança-se aos ares,
Em um voo sereno de puras sensações
Mira o horizonte e acelera o mais que pode.
Precisa recarregar suas energias
Antes do próximo show.

terça-feira, 7 de junho de 2011

CHAVE

Pintava os caminhos com a determinação de seus pés. Ia simplesmente e o chão encarregava-se de nunca lhe faltar. Possuía rotas variadas. Conforme o seu sentir subia, descia, andava em infinitas espirais que levavam a escadas direitas ou invertidas. Andava pelo teto, pelas paredes e pelo ar conforme melhor lhe convinha;No entanto possuía um limite que não podia ultrapassar, fato esse que não lhe deixava confortável. Liberdade ampla, porém restrita a um espaço determinado não era liberdade. Ansiava em descobrir onde estava escondida a chave da porta escura do canto da sala sem janelas. Já havia vasculhado todo o cômodo mas não a havia localizado.Certo dia, em suas andanças infinitas, percebeu algo que brilhava no alto teto escondida em uma fresta do forro. De um pulo lá chegou e verificou ser o objeto tão sonhado. Ansiosa, correu à porta para finalmente poder descobrir o que havia após ela. Abriu-a cuidadosamente e saiu correndo, sorrindo aliviada, para o amplo exterior. Livre da prisão. Sua felicidade durou até o momento em que percebeu que só havia ampliado o espaço e os limites da velha sala. Recomeçou a busca incessante da nova chave. Um dia isso teria que ter fim...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

VERBOS

Verbos que me atraem:
VIVER, SONHAR, ESCREVER, 
DIVAGAR, RIR, BRINCAR,
AMAR, SEDUZIR, DANÇAR,
 COMPARTILHAR, LER, VER.

Verbos que não me atraem:
INVEJAR, ODIAR, DESRESPEITAR, CAIR, 
MACHUCAR, BRIGAR, JULGAR, ADOECER, MORRER

Verbos que me atraem, mas que 
necessitam de complementos:
GRITAR (de prazer), FALAR (de bem), 
CHORAR (de feliz), ANDAR (para a frente)
TROCAR (energias positivas), IR (para voltar)
OUVIR (para auxiliar), TOCAR (para amar) 


Nesse sanduíche come-se o pão e joga-se fora o recheio...


domingo, 5 de junho de 2011

PIPA

Papel fino colorido, algumas varetas, cola e pano. Sentou-se no chão de terra batida e começou o trabalho, cortou, dobrou, colou e amarrou. A pipa foi surgindo pouco a pouco em suas hábeis mãos. Pronto, tudo no seu devido lugar. Restava, agora, o teste final. Subiu no alto do prédio no dia ensolarado. O vento lambia seu corpo franzino e quase o levantava. O tempo está ideal, pensava. Segurou firme o barbante com uma mão e a pipa com outra. Começou a correr e logo sua obra enfeitava o céu. Ficou embaixo, admirando-a com um olhar fixo e a boca aberta. Não queria perder a hora em que os anjos pegariam seu bilhete de socorro, amarrado na cruzeta que sustentava o brinquedo. Tinha cansado da vida e este era o seu derradeiro ato para tentar voltar a acreditar que um dia poderia ser feliz.

sábado, 4 de junho de 2011

SENTIR

Tenho milhões de sentimentos inexplicáveis. 
Ainda bem que sempre acreditei
Que sentir não comporta explicações. 
Sinto.
E isso, para mim,
É o que basta.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

SAGRADO

Apenas uma colocação inicial. Nos comentários ao post "PRISMA", publicado no dia 02 deste mês,  meu amigo Rogério do "Conversa Avinagrada" (http://conversavinagrada.blogspot.com)/  escreveu o seguinte:

"A refracção da luz solar
quando natural
é sempre bela,
espectacular
Sentou-se no chão para a admirar
por pura e mera distração
sem qualquer outra preocupação
particular
Eis senão quando
algo de inusitado apareceu
cruzando o céu
qual meteorito colorido
armonioso, meio veloz, meio brincalhão
após descrever um arco
se veio enfiar pelo chão
Chão tão próximo, que ali estava
que quase a coisa linda ele pegava
Não pegou, nenhuma pedra a agarrou
partiu terra adentro
sem ruido, impacto ou eco
apesar de ter aberto
uma larga galeria
Reforçou a curiosidade
e entrou por aquela entrada
levando consigo a impressão
de lhe ir acontecer coisa sagrada "

O post de hoje foi motivado por este comentário como uma retribuição do carinho sempre a mim dispensado e como uma brincadeira de continuação de histórias postas, que já está se tornando um gostoso exercício entre nós.

Assim, apresento:


SAGRADO

Um amplo salão abriu-se diante do seu olhar atônito. A umidade do ambiente fazia o ar quase irrespirável, mas produzia um lindo efeito quando em contato com a luz, que não se sabia de onde, invadia o espaço e se desdobrava em mil cores. O ar místico era reforçado pela melodia suave das inúmeras gotas que pingavam por todo lugar. Ele, em dúvida e ansioso, seguia em frente, caminhando com cuidado pelo musgo que crescia em todas as direções. Não sabia o que iria encontrar, não sabia o que queria encontrar. Simplesmente procurava algo que o chamava incessantemente. Ela, por sua vez, já refeita em seu vestido colorido o observava, procurando prever cada passo, cada deslocamento cuidadoso. Assustava-se com cada escorregão. Não podia sair da onde se encontrava. Com a queda abrupta, havia rachado a louça de que era feito seu corpo. Só lhe restava aguardar. A energia dos corpos, no entanto, já havia se encontrado e brincava emitindo vibrações e ondulações de toda ordem. Sabiam que estavam próximos. Sabiam que nada mais seria igual. Em um salto, de uma rocha a outra, ele a viu. Imediatamente, à medida em que ia caminhando, uma livre e firme trilha surgiu aos seus pés. Não havia mais cautela, não havia mais medo. Aproximaram-se. Ela sorriu e ele ajoelhou-se para verificar suas condições. No que chegou perto, pelas rachaduras da porcelana, ela o tragou para dentro das suas entranhas. Misturaram-se as essências e, em festa sagrada, fizeram-se unos. Fugiram em forma de luz escalando as pequenas gotas coloridas para viverem o resto da sua energia sorrindo e colorindo a paisagem.

BEIJOS
GISA

quinta-feira, 2 de junho de 2011

PRISMA

O prisma enclausura o sol e pincela o ar da sala com múltiplas cores.
Cuidadosamente ela destaca cada reflexo das paredes e dispõe em cima da mesa.
Decide costurar um vestido com todas as nuances ali separadas.
Tece uma a uma com delicadeza.
Veste o produto final.
Sente-se linda...
Dança, ri e põe-se a correr.
Salta da pedra mais alta rumo ao nada
Enfeita o céu durante o exato instante que dura a sua queda livre,
Plena por ter colorido aquela fria tarde de inverno...
Desaparece no chão aconchegada pelas rochas cinzentas
Que, invejosas, brigam umas com as outras
Na vã tentativa de roubarem para si
Um pouco da cor que sumia lentamente em suas entranhas...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

TAREFA

Jogou-o no quarto de espelhos e lacrou a porta.
Sentou-se apreensiva na poltrona de veludo vermelha e ligou a tela
Ficou, por longo tempo, observando o desespero que o acometia
Quando percebia que cada reflexo seu 
Continha a estampa de uma das suas múltiplas máscaras.
Conferiu, entre lágrimas, a ordem em que os espelhos iam sendo quebrados,
Nas vãs tentativas de encontrar a saída.
Sorriu ao constatar que havia sido preservado intacto apenas um
Justamente aquele que haviam imaginado desde o início.
Levantou-se e abriu a porta
Beijou-o nos olhos e cobriu-o com seu corpo
Estava muito feliz por tê-lo podido ajudar.
Às vezes, o auto-conhecimento é um caminho difícil de se percorrer sozinho.